Somático é o que se refere ao físico, ao corporal. Psíquico é o que ocorre no âmbito mental e comportamental de uma pessoa.
Psicossomáticas não são doenças criadas pela imaginação e sim sintomas reais, que incomodam, doem e incapacitam, mas que tem o fundo emocional como desencadeador. Segundo Franz Alexander toda doença é psicossomática, pois os fatores emocionais influenciam todos os processos fisiológicos.
O corpo reage à medida que a pessoa sente. As emoções são repostas subjetivas de vivências fisiológicas. Não é a toa que nos sintomas da depressão, ansiedade e pânico, por exemplo, existem os sintomas físicos mesmo o sofrimento sendo originário do pensamento. À medida que o corpo é afetado pelo que sentimos, seja por uma grande decepção, alegria, raiva, medo ou qualquer emoção, ele reage e pode culminar em uma desorganização somática, aí podem surgir as doenças biológicas.
O contrário também ocorre, ou seja, funções fisiológicas são afetadas por estados emocionais. Nosso comportamento é motivado por necessidades e desejos. Reações viscerais ocorrem a partir de estímulos emocionais. Tais processos tem a função de percepção, ação, representação, descarga, alívio da tensão e equilíbrio do organismo.
Quando nos deparamos com um adoecimento físico, o psíquico reage a esta situação, determinando muitas vezes a forma de enfrentamento da enfermidade, seja com otimismo ou com negatividade, por exemplo. Parafraseando Victor Manoel Andrade: “Não é esperado que o fenômeno psíquico possa se desvincular do biológico”.
Chamamos de “funcionais” os sintomas inexplicáveis para a medicina por doenças identificáveis, tais sintomas podem ser dores musculares, cefaleia tensional, palpitação, tontura, intestino irritável, entre outras. Entretanto é importante ressaltar que a persistência do sintoma funcional pode realmente gerar uma doença.
Toda doença, psíquica ou biológica, tem um significado, ela sempre vem carregada de um sentido, uma finalidade e uma função na vida daquele que adoece. Doença, em geral, nos remete a um estado regressivo que requer cuidados, podemos perceber isso ao observar alguém doente, este costuma ficar mais sensível, carente, manhoso, necessita de maior atenção e, portanto exige um investimento de fora para dentro.
Segundo Donald W. Winnicott é possível perceber que um dos objetivos da doença psicossomática é o de retomar a associação íntima entre psique e soma (corpo). A doença entraria como uma oportunidade de reaver um conflito, experiência traumática ou vivência não elaborada, ao proporcionar uma regressão, cria a possibilidade da pessoa se reorganizar e reestabelecer a coerência entre o psíquico e o somático.
As pessoas mais suscetíveis a adoecer podem ter maior dificuldade em lembrar-se do passado, mantendo uma maior ligação com o factual, com o presente, pensamento ligado à materialidade, distanciamento afetivo dos acontecimentos, menor capacidade de elaboração simbólica, ausência de sonhos, ou até um vazio sem sentido. Isso dificulta a percepção da necessidade de cuidar do emocional antes ou quando uma doença se instala. É também um desafio para muitos psicólogos, pois a pessoa tem um sofrimento psíquico porém não o identifica, a experiência traumática é sentida no corpo, porém não é representada na mente.
Quando pensamos num adoecimento psicossomático, é necessário um tratamento diferencial, em que se leve em consideração os cuidados com o corpo e também com a mente. Tratar apenas uma parte proporcionará um tratamento pouco eficaz no sentido de não lidar com todas as questões envolvidas. Vale ressaltar que toda doença é uma tentativa de estabelecimento de equilíbrio.
Então cabe avaliar, você cuida da sua mente da mesma forma que cuida do seu corpo? E cuida do seu corpo como cuida de sua mente?
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Filme sugerido: Um Golpe do Destino, ("The Doctor"), 1991
"Um Golpe do destino" é um filme dirigido por Randa Haines e estrelado por William Hurt como um médico bem sucedido, rico e aparentemente sem nenhum problema, até o momento em que é diagnosticado com câncer de garganta, Ele sofre uma transformação em sua visão sobre a vida, a doença e as relações humanas após se tornar paciente. Busca hospitais, tratamentos e médicos, percebendo que ser um doutor é mais do que somente cirurgias e prescrições.
Escrito por Cíntia Cazangi
Psicóloga clínica, institucional e psicoterapeuta, formada e pós-graduada pela UNESP/SP e Santa Casa de Misericórdia/SP, especializanda em Psicossomática Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae. 10 anos de experiência no atendimento a adultos, adolescentes, idosos, crianças, orientação de pais e profissional.